6.1.11

mundos compostos

 APRESENTAÇÃO FINAL

a)     plano da acção

Sentada sobre um plástico negro grande, sempre de olhos fechados, proferi o seguinte texto:

“Estou estropiada.
Estou em farrapos nesta caixa que me isola.
Não há som, não há imagem, não há frio, não há tempo.
Quis deixar o meu usual, quis o desconhecido. Mas há consequências.
E eu parti-me, cada pedaço do meu passado caiu e partiu. Rachou.
Só me restou reconstruir-me a partir do nada que agora é o meu sítio.
O sítio das coisas escuras, o sítio que me traz uma luz que sorri.
Adeus passado, olá desconhecido.”

À medida que ia fazendo este discurso, completamente vestida de negro e de lábios pintados de vermelho vivo ia fazendo gestos que acompanhavam esta ‘acção falada’.

Após ter dito “Estou em farrapos nesta caixa que me isola” lancei papeis negros disformes para o ar como símbolo de uma destruição aguçada e dolorosa. Por dentro.

Tapei os ouvidos a “Não há som”, num símbolo de conforto; coloquei uma venda negra a “não há imagem”, como se deixasse descansar verdadeiramente os olhos uma vez na vida; passei as mãos pelos os braços a “não há frio”, numa forma figurativa de liberdade; lentamente juntei as palmas das mãos a “não há tempo” pois o tempo é algo desconhecido que não controlamos mas vivemos.

No final, acenei vagamente em “Adeus passado” e depois puxei a palma da mão para o peito e disse “olá desconhecido”, agora vivo o desconhecido, esquecendo o passado e as tristezas que me provocaram.





 b)     adereços

  • cartolina negra cortada aleatóriamente.
      -simboliza o meu ‘eu’ despedaçado, destruído.

  • gorro negro utilizado como saco.
      -simboliza o infinito de onde vem tudo o que sinto e não sinto.

  • venda negra.
      -simboliza a visão em descanso, é o alívio.


Utilizei os seguintes adereços para dar mais ênfase à apresentação e como resumi por baixo de cada um, tinham todos um simbolismo relacionado com diferentes pontos, mais abstractos ou mais concretos, do meu conceito.




c)figurinos

  • camisola preta, leggins pretas, meias pretas.
      -simboliza o desconhecido que eu própria sou e procuro.

  • lábios vermelho-vivo.
      -simboliza um rasgo de luz, esperança de me encontrar.

  • cabelo todo apanhado.
      -simboliza os sentimentos/pensamentos reprimidos, que apanhados, um a um, estam apertados e comprimidos contra a cabeça em agonia.


     Apesar de terem uma intenção semelhante ao ponto anterior, estes têm mais a ver com a pessoa em si, são coisas mais pessoais: o desconhecimento individual, a esperança de alguém, a procura de si mesmo, a repressão de todo o sentir mental.




c)     elementos cénicos

·      maquete.
      - simboliza a caixa que me isola, mas num ponto mais pequeno e mais abstracto.

·      saco de plástico negro
      - simboliza o abismo por baixo de mim no qual eu não vou cair, fico por cima, no limite frágil, mas a força de vontade faz-me permancer fora desse abismo.


     Estes dois elementos têm simbolismos de carácter físico, mas muito mais abstracto. Um é a representação de todo o meu mundo, na sua pequena fragilidade enquanto outro e o mundo no qual não quero pertencer, no qual não quero cair embora esteja muito próxima dele.




d)     maquete


NÃO-LITERAL
·       SUBCONSCIENTE
      -pensar sem racicionar
      -sem limites
      -infinito-e-mais-além

·       MUNDO SURREAL E ABSTRACTO
      -textura delicada e eclética
      -leque de cores:
                  .pretos
                  .amarelos
                  .vermelhos
                  .roxos

·       MANCHAS
       -disformes
       -achatadas
       -moldadas umas às outras
       -moldadas ao próprio distanciamento

·       LIBERTAÇÃO DO NÚCLEO
       -tornando-se mais:
                  .redondas
                  .límpidas
                  .brancas

aí partem. recomeçam. reconstroiem.

 

















 

LITERAL
·       EXTERIOR
      -cartão pintado com tinta acrílica preta
(caixa que isola)

      -cordas a envolver a caixa
(aprisionamento do desconhecido)

      -triângulo recortado no fundo da ‘gruta’
(olho a procurar a entrada para o desconhecido)


·       ‘MEIO TERMO’
      -faixa rectangular de cartolina
(infinidade do desconhecido)


·       INTERIOR
      -fios
(delicadeza, suavidade, tranquilidade)

      -pedaços de tecido, papel na cores do abstracto
(manchas disformes, fragmentos do pensamento)

-bola de papel com pinceladas de tinta acrílica preta e coberta de papel celofan vermelho
(eu perdida e com o passado ainda a envolver-me no centro daquele abstracto)






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