20.2.11

módulo IV - audiovisuais - semana 1

EXPLORAÇÃO DE IDEIAS


a) raid 1
1. decadência interrompida
o meu conceito envolve-se em parte com o lado mais esquecido do Homem.
o desassossego, essa procura pela verdade pessoal expressa-se apartir do nosso estado mais sujo, mais triste e mais amargo. a isto, queremos chamar de memória quando faz parte do que somos, quando ainda está alojado na nossa alma, quando ainda grita dentro do coração. e aí temos saudade do que antes eramos.

  gota a gota, erro a erro, ano a ano, ficas sujo e degradado. ficas sentado na escada à espera que alguém se lembre de ti.

 porque te escondes assim? porque ocultas toda a tua cor e textura?

porque te tapas de um falso branco e finges a tua candura?

sou uma porta polida e suja, manchada de nomes que não são meus, trancada para dentro. perdi a chave. engoli-a na esperança de não precisar dela.

deixei de ser transparente, deixei de estar preenchida, deixei de ter companhia, deixaram de me visitar.

fechei-me dentro de paredes de vidro e com o tempo estas foram-se fragilizando e ganhando pó. eu inquieta limitava-me a ver o vento passar e as pessoas a mal-tratarem-me.

deixei uma janela sem portas neste recinto fechado a que chamo de coração.
quis que as vozes e os cheiros entrassem e passassem a ser parte de mim.
e pus um banco, um banco onde no canto pudesse ver com os meus olhos as pedras da calçada.

a minha alma está sombria, está velha e gasta apesar dos poucos anos.

estou danificada o suficiente para muitos anos e esquecida por uma vida.

perdi a noção de privacidade, já não conheço os outros e ainda menos a mim.

sou uma lâmpada fundida, sou um tecto quebradiço, um fio cortado, uma máquina esquecida e estragada.

deparo-me com mim mesma. olho de fora para dentro.

deparo-me com o mundo. olho de fora para dentro.
vivo em terra surreal, pessoas estranhas com hábitos misteriosos e pensamentos retorcidos.

  esse azul negro que te envolve em toda a tua brancura e te queima por dentro

2. movimentos urbanos
  a cidade é feita dos pormenores, vive com as multidões, respira os espaços livres, descansa nos dias de chuva e o seu coração bate com a pulsação do metro e da marcha do Homem.

a cidade é o conceito mais puro e concreto do desassossego.

  enquanto o café a escaldar é amaciado pela ventania dos fins de tarde invernis os candeeiros acendem.
é essa luz, essa sintonia de lâmpadas que rompe a rua do crepúsculo que silenciosamente admiro por dentro.


mesmo na mais torrencial das chuvadas as gotas parecem solitárias.


esse manto aveludado que se move nos becos. a passo elegante e fortífero. olhos cintilantes e grandes. músculos mortíferos e engenhosamente inventados. és tu gato vadio o rei dessa noite escura onde tu e só tu me vês.




só tu podes dizer que conheces a palma da mão de mil.

  vazio, mas não esquecido pois fizeram em ti um corte redondo, contínuo.

  nem no dia despercebido passas. imóvel mas austero. à noite despertas.
  em vós meio mundo repousa, em vós meio mundo suspira.



  podem pintar-me vezes sem conta de cores bonitas e douradas.

mas a minha madeira será sempre velha e corroída e não haverá metal ou grade que me sustente.

  tenho a minha porta aberta porque já nem quero saber da chave. esses estranhos e os vadios serão meus convidados.


tenho saudades dessas escadas velhas e barulhentas que me faziam descalçar e sentir as suas fissuras nos pés só para preservar o silêncio da noite.


na poesia das ruas os pendentes, os vidros e as palavras misturam-se e evoluem para o conceito (urbano).

  nesse túnel falsamente branco, falsamente polido, falsamente contínuo encontrei a luz que tantos enganou.


o pior olhar que podem mandar não é o passageiro na multidão mas aquele furtivo cuja cor desconhece-se.

  veias pulsantes dos monstros subterrâneos como me perturba o vosso silêncio, a vossa estabilidade.


tenho pena de vós. sozinhos e aos pares ostentando cores brilhantes que não passam duma ilusão da vossa sujidade.

  a anarquia está a começar a surgir nas costas dos sinais de trânsito.

sonsos. porém, não deixa de ter a sua graça.

3. objecto vulgar em minha mão















4. suspensão







































































b) filme
b.1)guião e/ou argumento


argumento de 'reflexo cego'

Era eu e tu, juntos e separados num só, numa fuga conjunta, eu movia-me no lado esquerdo e tu no direito. Os símbolos de toda uma vida cobriam-nos a pele num caos assustador, somos monstros humanos. Não sei o porquê nem como ali estavamos. Simplesmente sentia medo e corria com todas as minhas forças. Os tendões iam rebentar, os músculos rasgar, os pés cortar. Estamos despidos de tudo o que antes queriamos aparentar. Fugir não resultou, abrir uma porta para outro mundo revelou-se um engano. De joelhos caimos e aceitámos esta derrota, submetemos o nosso corpo exausto à ilusão mental.
Abrimos os olhos e ali estavamos, na prisão claustrofóbica do quarto escuro, das quatro paredes sem janelas. De joelhos nos submetemos e perdemos neste jogo que já sabiamos viciado. Estamos sozinhos e temo-nos um ao outro mas eu já não te suporto, só quero deixar este estado inconsciente em que me atenuaste. Tu olhas-me de dentro para dentro e eu bato com os punhos, choro, arranho a pele, estico todas as cicatrizes, não consigo arranjar palavras para gritar, então as minhas mãos ganham linguagem própria, a imagem segue pelas minhas veias impulsionando-me para uma dança com as mãos, um sentimento expresso através dos dedos, da pele. Pouso as mãos em minhas coxas doridas e fecho os olhos, recebo a desilusão em troca da verdade. Tapo a boca, nem mais uma palavra. O som morreu.
Uma tranquilidade – essa tão falsa – invade-nos e divide-nos, vemo-nos iguais e diferentes sempre de frente e nunca de trás. Sorrimos perante o jogo que já iniciámos mas não nos lembramos quando. Avançamos sem nunca nos lembramos do que antes aconteceu, a nossa consciência vai esbatendo-se à medida que avançamos cada vez mais profundo. Aqui o que chamavamos de inteligência compete consigo mesma, avança uma peça desse velho tabuleiro de xadrez, mata e sorri num avanço tenebroso contra si mesma. Pensamos em conjunto mas de modo diferente, estamos um contra o outro, mas descobrimos, percebemos onde nos metemos e desistimos da matança interior, deixamos uma mão morta balonçar ao nosso lado. Conscienlizamos-nos neste nosso estado, já não lutamos para fugir deste jogo, continuamos a aprofundar e assim compreender a nossa essência.
Já unidos, já conscientes percebemos que aqui, dentro de nós a palavra é movimento e imagem, o silêncio é visual e ritmado. Dançamos numa libertação delicada e animal. Entramos em harmonia com todas as nossas dúvidas e diferenças. Sabiamos e sentiamos a paz a começar a enrolar-se na nossa cabeça e nas nossas feridas por sarar.
Todo este espelho sujo em que nos viamos projectados um no outro é um estado absorto, desligado da realidade. É a hipnose do estranho, do louco que temos em nós e nos faz irmos mais longe dentro de nós. Somos vários e somos um. Esse pensamento, essa ideia absurda que nos hipnotiza é o veneno mais belo e enganador que podemos permitir entrar em nós.
E acordamos, descobrimos uma outra acção mas já não sabemos distinguir o sonho da realidade. Já não acreditamos no nosso próprio reflexo, já acreditamos que somos apenas um, já não acreditamos na matéria nem na nossa mente, já não acreditamos que existimos.
Simplesmente desligamos.


guião de 'estado quase verdadeiro'


CENA 1
mia desce a correr calçada ingreme descalça, unhas pintadas em dois tons de azul diferentes e pernas e pés cobertos de pinturas tribais, sempre de perfil, em perspectiva normal ao nível dos tornozelos e com acompanhamento em travelling fazem-se os seguintes planos:
plano de pormenor da parte da frente do pé
grande plano dos pés
plano médio dos pés aos joelhos

CENA 2

sempre em perspectiva normal:
plano de conjunto dos pés pintados da mia sobre a borda da Fonte Luminosa em 1º plano e com enquadramento à esquerda, em 2º plano trêpa, de cócoras com tshirt branca, calças de ganga e pés descalços em frente ao espelho sujo apoiado numa das estátuas, de costas para a câmara e enquadrado à direita, fonte luminosa como plano de fundo.
plano próximo do trêpa de costas para a câmara com enquadramento à direita.
grande plano do trêpa de perfil e a olhar de frente para o espelho com expressão séria e neutra.
plano de pormenor da mão do trêpa a avançar a rainha no tabuleiro de xadrez encostado ao espelho – panorâmica horizontal.
plano de conjunto da joana a olhar para o chão com expressão desgostosa e encostada a uma das estátuas em primeiro plano, em segundo plano trêpa de perfil a recolher o braço, o braço da mariana cheio de tecidos soltos e compridos estende a mão a joana, ela levanta a cara olhando para cima com uma cara surpresa e agarra na mão subindo.
plano de conjunto de joana e mariana a rir enquanto correm em direcção ao exterior da fonte, ambas descalças, joana vestida toda de negro e mariana com várias sobreposições de roupa em slow motion.
plano de conjunto de joana e mariana a saltarem da borda da fonte em slow motion.
plano médio de joana e mariana a dançarem na relva, já ambas com roupas semelhantes e usando lenços no ar.

CENA 3

plano americano de mia com expressão neutra, vestido roxo e cabelo apanhado de braços esticados para cima com o espelho de trêpa nas mãos e fazendo reflexos no céu com ele.

CENA 4

plano próximo da mariana de frente sentada numa cadeira velha vestida com tshirt preta e descalça a seguir com os olhos e expressão vazia um amuleto que balança em modo de pendente de hipnose tendo a Fonte Luminosa como plano de fundo.
repetição de todos os pontos anteriores com joana, trêpa e mia.

FIM




A ideia do filme consiste no absurdo e na verdade presentes no sonho e na hipnose, através da mudança de patamares, das portas que abrimos para chegar à harmonia que encontramos na essência faz-nos colocar a seguinte questão: como saber o limite entre o sonho e o real?
Assim, o título trata-se da representação da cegueira em que nos encontramos primeiro, é a ignorância.
O reflexo é a chave de tudo, o sonho é um reflexo do nosso subconsciente, da verdade mais crua. 






CONCEITO

a) conceito individual

1.
Adormeci e entrei em mim. A preto e branco me procurei no espelho sujo. O batimento frágil e intenso de meu coração ribombou em cada veia da cabeça, dos dedos. Arrepiei-me nua neste espaço vazio. Olhando-me não me vi. Não tinha cara, apenas pele exposta. Esse espelho de enganos estava coberto de mim, de sinais e de uma leve penugem, de pele macia e de brancura, de manchas e de cicatrizes. Chorei. Arrependi-me da entrega ao estado puro e cru.
Cai no negro, o ar acariciava-me as entranhas, os olhos e a boca, deixei-me levar. A minha cabeça ficou livre e leve. De novo enfrentei o espelho sujo. Uma veia palpitava-me do peito ao pescoço e daqui à têmpora. Mas parou, um aperto no coração perante o rosto sem eu. Gritei, gemi e lamentei.
Acordei e procurei o espelho que nunca tinha existido. Olhei-me na água fria e vi a lágrima e a palavra. Reflectida naquela agitação isenta de vida me encontrei. Ali era eu, eram os meus olhos escuros, a minha boca ferida, a minha língua seca.
Eu era o complexo humano, eu sou o desassosego.



2.
O desassossego cria buracos na nossa cabeça, espaços à toa que flutuam sem saber o porquê.
Inquieta-me o olhar para uma pedra e não ver nada para além disso. Perturba-me ter deixado de observar fixamente uma pessoa que estava sentada à minha frente. Arrepia-me ler sem pensar e ter que voltar a trás porque estava abstraída.
Não é tristeza, não é ansiedade nem é ausência.
É a ambiguidade entre o que sou e o que serei.






b) conceito de grupo

Em nós existem muitos mundos. As portas que podemos abrir são imensas. Porém todas elas vêm de um núcleo comum: o sonho. É coisa estranha, bizarra e totalmente surreal mas genuína. É uma brincadeira azeda e sensorial. É uma zona neutra onde nos revoltamos contra nós mesmos. É um estado induzido pela hipnose do real. Torna-se o jogo viciado de que fugimos apesar de nos atrair pela profundidade da sua verdade.
Abre-se para as portas do surreal, do absurdo, do medo, da solidão, do desassossego e do tempo.
É o estado quase verdadeiro.





PESQUISA




‘Le Fabuleux Destin D’Amélie Poulain’ é um dos meus filmes favoritos.
A sua alegria melancólica associa-se completamente ao estado confuso e inquieto do meu conceito ‘desassossegado’.
A fotografia, o movimento, a história, a luz, as cores, as personagens, os actores e a banda sonora do meu compositor preferido: Yann Tiersen acabam por fazer uma explosão de emoção em mim. Sinto-me completamente dentro de mim e com desejo de viver mais cada vez que vejo este filme.



o sono é uma representação no meu conceito de um estado de transição entre o que nós somos e o que podíamos ser. é um estado de libertação mental e física controlada por nós mesmo que não nos apercebamos.


a força do olhar acaba por ser uma reflexão do nosso interior, uns mais intensos que outros, mas todos transmitem uma vida e só isso é um conceito um tanto arrepiante e irónico: vermos os outros pelos olhos?




EXPLORAÇÃO DE IDEIAS
c) retrato

 trata-se de um esboço muito precário mas que se mantém no conceito de desassossego mental, degradação e caos.

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