a) plano da acção
Sentada sobre um plástico negro grande, sempre de olhos fechados, proferi o seguinte texto:
“Estou estropiada.
Estou em farrapos nesta caixa que me isola.
Não há som, não há imagem, não há frio, não há tempo.
Quis deixar o meu usual, quis o desconhecido. Mas há consequências.
E eu parti-me, cada pedaço do meu passado caiu e partiu. Rachou.
Só me restou reconstruir-me a partir do nada que agora é o meu sítio.
O sítio das coisas escuras, o sítio que me traz uma luz que sorri.
Adeus passado, olá desconhecido.”
À medida que ia fazendo este discurso, completamente vestida de negro e de lábios pintados de vermelho vivo ia fazendo gestos que acompanhavam esta ‘acção falada’.
Após ter dito “Estou em farrapos nesta caixa que me isola” lancei papeis negros disformes para o ar como símbolo de uma destruição aguçada e dolorosa. Por dentro.
Tapei os ouvidos a “Não há som”, num símbolo de conforto; coloquei uma venda negra a “não há imagem”, como se deixasse descansar verdadeiramente os olhos uma vez na vida; passei as mãos pelos os braços a “não há frio”, numa forma figurativa de liberdade; lentamente juntei as palmas das mãos a “não há tempo” pois o tempo é algo desconhecido que não controlamos mas vivemos.
No final, acenei vagamente em “Adeus passado” e depois puxei a palma da mão para o peito e disse “olá desconhecido”, agora vivo o desconhecido, esquecendo o passado e as tristezas que me provocaram.
b) adereços
- cartolina negra cortada aleatóriamente.
-simboliza o meu ‘eu’ despedaçado, destruído.
- gorro negro utilizado como saco.
-simboliza o infinito de onde vem tudo o que sinto e não sinto.
- venda negra.
-simboliza a visão em descanso, é o alívio.
Utilizei os seguintes adereços para dar mais ênfase à apresentação e como resumi por baixo de cada um, tinham todos um simbolismo relacionado com diferentes pontos, mais abstractos ou mais concretos, do meu conceito.
c)figurinos
- camisola preta, leggins pretas, meias pretas.
-simboliza o desconhecido que eu própria sou e procuro.
- lábios vermelho-vivo.
-simboliza um rasgo de luz, esperança de me encontrar.
- cabelo todo apanhado.
-simboliza os sentimentos/pensamentos reprimidos, que apanhados, um a um, estam apertados e comprimidos contra a cabeça em agonia.
Apesar de terem uma intenção semelhante ao ponto anterior, estes têm mais a ver com a pessoa em si, são coisas mais pessoais: o desconhecimento individual, a esperança de alguém, a procura de si mesmo, a repressão de todo o sentir mental.
c) elementos cénicos
· maquete.
- simboliza a caixa que me isola, mas num ponto mais pequeno e mais abstracto.
· saco de plástico negro
- simboliza o abismo por baixo de mim no qual eu não vou cair, fico por cima, no limite frágil, mas a força de vontade faz-me permancer fora desse abismo.
Estes dois elementos têm simbolismos de carácter físico, mas muito mais abstracto. Um é a representação de todo o meu mundo, na sua pequena fragilidade enquanto outro e o mundo no qual não quero pertencer, no qual não quero cair embora esteja muito próxima dele.
d) maquete
NÃO-LITERAL
· SUBCONSCIENTE
-pensar sem racicionar
-sem limites
-infinito-e-mais-além
· MUNDO SURREAL E ABSTRACTO
-textura delicada e eclética
-leque de cores:
.pretos
.amarelos
.vermelhos
.roxos
· MANCHAS
-disformes
-achatadas
-moldadas umas às outras
-moldadas ao próprio distanciamento
· LIBERTAÇÃO DO NÚCLEO
-tornando-se mais:
.redondas
.límpidas
.brancas
aí partem. recomeçam. reconstroiem.
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LITERAL
· EXTERIOR
-cartão pintado com tinta acrílica preta
(caixa que isola)
-cordas a envolver a caixa
(aprisionamento do desconhecido)
-triângulo recortado no fundo da ‘gruta’
(olho a procurar a entrada para o desconhecido)
· ‘MEIO TERMO’
-faixa rectangular de cartolina
(infinidade do desconhecido)
· INTERIOR
-fios
(delicadeza, suavidade, tranquilidade)
-pedaços de tecido, papel na cores do abstracto
(manchas disformes, fragmentos do pensamento)
-bola de papel com pinceladas de tinta acrílica preta e coberta de papel celofan vermelho
(eu perdida e com o passado ainda a envolver-me no centro daquele abstracto)
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